sábado, 24 de novembro de 2018

Sat Darśana-s, os seis sistemas filosóficos da India


O conhecimento contido nos Veda-s, por ser vasto e profundo, é comparável a um oceano. E este magnifico oceano fora explorado com afinco por gerações de sábios da antiguidade. Pela beleza existente em algumas de suas mensagens, ou para que questões urgentes a uma época fossem trabalhadas, alguns aspectos do conhecimento contido nos Veda-s se destacaram e foram minuciosamente desenvolvidos. Consequentemente, diferentes correntes de pensamento foram desenvolvidas.
Estas ramificações do pensamento védico, ao amadurecerem, se tornaram sistemas filosóficos bem estruturados e foram chamadas de Darśana-s. Darśana deriva de drs, que significa ver, ou ter a visão. A nomenclatura Darśana é de fato bem empregada já que a intenção destes sistemas filosóficos é contemplar o indivíduo com uma perspectiva pura sobre si e sobre a realidade.
Os Darśana-s são seis em número, Nyāya, Vaiṣeśīkā, Sāṃkhya, Yoga, Mīmāmas e Vedānta. Por derivarem da mesma fonte muitas vezes coincidem em alguns pontos, mas possuem estrutura filosófica e aplicação própria.
Os seis Darśana-s são:
  Nyāya – esta escola filosófica foi trazida por Gotama (ou Gautama). É teísta. Nyāya significa aptidão. Esta escola filosófica se baseia nos fenômenos notórios.  Segundo seu pensamento, a transformação ocorre através da lógica e da compreensão derivada da percepção, inferência, analogia e do testemunho. Tudo no mundo estaria interligado, conectado por uma lógica de causa e efeito. O sofrimento que passamos possui uma causa e uma razão. A compreensão desta causa nos libertaria do sofrimento.
  Vaiṣeśīkā – seu sábio fundador foi Kanāda. É teísta. Acredita-se que Kanāda tenha sido contemporâneo de Gotama. Esta escola poderia ser compreendida como uma complementação ao Nyāya. A Vaiṣeśīkā ensina que existe um mundo transitório, mas que seria composto pelas agregações de átomos eternos. Ela dedica-se à investigação da lógica da vida acreditando que tudo no Universo está passando por estágios de evolução e dissolução.
  Sāṃkhya – o sábio que sintetizou o pensamento Sāṃkhya foi Kapila. Sua principal escritura é o Sāṃkhya-kārikā. A filosofia Sāṃkhya estuda a evolução da matéria. Nela, a investigação discriminatória e racional ocorre para a investigação dos princípios da causalidade. É essencialmente dualista tendo como base a distinção entre o ser, Puruśa, que testemunha e a matéria, Prakrti, que é testemunhada. Não insiste no conceito de Deus, e sim na harmonia entre estas duas energias, espiritual e material. Toda confusão e sofrimento vem da não compreensão da distinção de Puruśa e Prakrti. Este ponto de vista é também sustentado pelo Yoga.
  Yoga – o sábio Patañjali foi o compilador do Yoga responsável por elucidar a filosofia, pedagogia e prática do Yoga de forma definitiva em uma única escritura. O Yoga compartilha basicamente do mesmo ponto de vista evolutivo da matéria que é explicado no Sāṃkhya, porém com uma aceitação de que existe uma inteligência maior, ou um Puruśa distinto dos demais. O caminho do Yoga é prático e através da experiência direta. A emancipação dos conflitos ocorre pelo processo de compreensão e harmonização das atividades da mente. Sua proposta de profunda entrega, sraddha, desafia a lógica. 
O Yogasūtra de Patañjali é a primeira escritura, de que se tem conhecimento, a tratar da mente e de seus processos.
  Mīmāmas, ou Purva Mīmāmsa – seu fundador é Jaimini. Trata da importância de rituais religiosos e karma (ação). De acordo com este pensamento, se praticarmos com maestria nossas ações, sejam estas mundanas ou espirituais, nos libertaremos do sofrimento.
  Vedānta – o Vedānta dedica-se ao estudo dos princípios descritos nos Upanishads e na implementação de seus valores para interagir com o mundo de maneira sábia. O Vedānta contribuiu significativamente para a preservação e transmissão dos Upanishads, que são a última parte da literatura védica. O Vedānta sustenta a visão de que a religiosidade, a compreensão e aceitação de um Deus absoluto nos levaria ao fim de todas as ilusões. O Vedānta também é chamado de Uttara Mīmāmas, e possui ramificações (Dvaita Vedānta, Advaita Vedānta e Vashistādvaita Vedānta). O hinduísmo, da forma que a conhecemos hoje, é embasada no pensamento Vedāntino.

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