Quando somos beneficiados por alguma coisa, naturalmente tendemos a querer que as pessoas que nos cercam também se beneficiem dela. Escuto muitas pessoas lamentarem por não conseguirem trazer seus maridos, esposas, filhos e amigos para freqüentar aulas de Yoga. Às vezes alguns até aceitam devido a uma certa pressão. No entanto, se essas pessoas não buscarem o Yoga por se sentirem tocadas pelo seu ideal, acabarão rapidamente desistindo.
A oportunidade de entrar em contato com o Yoga pode vir por um convite ou uma oportunidade, mas o “chamado” para abraçar essa filosofia nasce de dentro de nós, ele não vem de fora. Podemos receber estímulos e inspiração externos, mas a curiosidade ou a necessidade nasce de dentro. Existem muitos caminhos que se propõem a conduzir o sujeito para o mesmo objetivo de Yoga. Cada um tem o seu caminho, a sua busca, nem todos se identificam com o Yoga. Quando o caminho para o autoconhecimento é imposto a alguém, ele se torna em um caminhar frio e “burocrático”, e sem coração não se chega a lugar algum. Além do mais, insistir pode gerar repulsa.
Meus pais nunca impuseram que eu me relacionasse com o Yoga. Quando seus valores pessoais e suas atitudes mudaram, inspiraram outros membros da família a começarem a se interessar naturalmente pelo Yoga. Eu me lembro de uma época em que minhas duas avós também participavam das aulas no espaço aonde praticávamos. Eu e meu irmão tivemos a liberdade de nos aproximarmos do Yoga de uma forma muito natural e gradual.
Tudo começou com o olhar curioso de duas crianças. Nós observávamos o comportamento dos adultos que nos cercavam assim como seus livros, suas conversas e condutas, e tirávamos nossas conclusões. Duas vezes na semana, íamos do colégio encontrar nossos pais no estúdio de Yoga aonde praticavam para depois ir para casa. Ficávamos esperando na ante-sala do espaço. As pessoas chegavam, se aquietavam e muitas já fechavam os olhos sentadinhas esperando pelo horário.
Nessa sala tinha todos os livros do Hermógenes. Às vezes eu dava uma olhada. Nós víamos as pessoas saírem relaxadas. Assim imaginávamos ou entendíamos o que se passava ali dentro. Quando alguém chegava e ficava inquieto meu irmão e eu sabíamos que se tratava de uma pessoa que ainda não tinha entendido o espírito da coisa, pois se comportava diferente dos outros. Nós também ficávamos quietinhos como o ambiente sugeria.
O professor se chamava Paulinho. Ele era a pessoa mais estranha e interessante que eu já havia conhecido. Paulinho falava pouco. Muitas pessoas pediam a ele conselhos e muitas vezes se faziam satisfeitas apenas com um sorriso ou um gesto seu. Ele era calmo e contemplativo, mas ao mesmo tempo intenso. Sempre que ele falava, eu via que ele fazia as pessoas pensarem. Meu irmão e eu às vezes o imitávamos de brincadeira em casa. Nós fomos nos apaixonando por esse ser. O Yoga para mim era o Paulinho. Paulinho até hoje diz que nada sabe, mas foi ele quem me deu a esperança de que um homem pode se tornar em um ser sábio. Em pouco tempo meu irmão e eu trocamos a ante-sala pela sala de prática. Ninguém nos impôs nada (meu irmão “malandramente” aproveitou a oportunidade e negociou nossa saída do Kumon).
Todo praticante de Yoga é potencialmente seu propagador. Não insistindo para que amigos e membros da família também façam as aulas, mas se tornando um exemplo por tentar viver os valores do Yoga, se transformando em seres mais humanos e assim cativando os outros. Foi o que aconteceu comigo.
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