Diário de viagem
Chennai, India, maio de 2007.
Terminada a aula de Yogasūtra, Sangita pergunta
sobre meu interesse em participar de sua aula de Āsana que iria acontecer no
dia seguinte em uma escola. No convite anterior, na escola para crianças com
diferentes necessidades especiais, refleti bastante sobre como minha professora
conduzia a aula e adaptava as posturas para suprir as necessidades daqueles
alunos.
Como antes, mesmo sem saber que tipo de escola
iriamos, aceitei com entusiasmo. No dia seguinte um mistério até chegarmos ao
portão da escola de dança clássica Indiana. Embaixo de uma figueira centenária
encontravam-se cerca de 20 moças entre 16 e 18 anos se preparando para a aula.
Imaginei que faríamos uma aula dinâmica e ativa,
com pulos e posturas avançadas, afinal, todas pareciam leves e flexíveis.
Engano meu, a aula foi lenta e passiva.
Na volta, quando me perguntou o
que tinha achado, disse não compreender o foco da prática. Sua explicação foi
muito simples: “Elas ensaiam coreografias quase oito horas por dia. Essas
coreografias forçam muito os joelhos e calcanhares e deixa os braços, ombros e
cervical muito rígidos. Você já esteve em uma apresentação de dança clássica?”
Enquanto
eu puxava da memória ela me lembrava sobre os movimentos excessivos com os
braços e os constantes pontapés fortes dados no chão. “esta arte é lindíssima,
mas pode danificar o corpo. Muitas, mesmo sendo jovens, já sentem dores nessas
regiões e ficam cansadas pela rotina de ensaios”. Para finalizar “não é o que
elas podem fazer, Diego, mas o que devem fazer. Elas conseguem realizar Āsanas
extravagantes, mas será que precisam?”. Concordei. Pensei na prática com esta nova perspectiva e tudo fez sentido. As posturas e movimentos para relaxar ombros, relaxamento das pernas…
Penso muito nisso. Na verdade penso todos os dias. Será que precisamos fazer tudo que conseguimos só por que conseguimos?
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